domingo, 21 de julho de 2013

Juventude e Espiritismo

ENTREVISTA COM CARLOS AUGUSTO ABRANCHES

Tema : Juventude e Espiritismo


01.Como a Doutrina Espírita avalia a participação de um jovem que desde tenra idade estuda com afinco esta mesma Doutrina, que segundo Kardec é uma Doutrina Evolucionista, e este jovem resolve entrar para a política de seu País? Qual é o papel desse jovem, em relação a sua posição futura na Sociedade? Ele poderá conviver de ambos os lados servindo a Deus e a Mamon?

Resposta: É preciso entender bem as duas posições colocadas em extremos diferentes. Política e Espiritismo não devem ser considerados necessariamente condições próprias de mundos opostos, como Espiritismo ligado a Deus e Política vinculada a Mamon. O jovem espírita que desejar seguir uma carreira política pode levar para seu ambiente de atividades todos os princípios estudados na Doutrina, assim como qualquer espírita deve fazê-lo em seu meio profissional. Se vai ser possível ou não uma convivência entre dois mundos diferentes, tudo vai depender da fidelidade desse jovem aos valores ético-morais assimilados livremente em suas reflexões espíritas.


02.Os jovens cujos pais não aceitam a participação de reuniões espíritas devem continuar indo sem a permissão ou consentimento dos pais? Como proceder?

Resposta: Tudo depende do diálogo. O jovem espírita que encontra resistência no lar para prosseguir em suas atividades doutrinárias deve buscar de todas as formas abrir caminhos para facilitar a compreensão familiar a respeito do que seja efetivamente a Doutrina. Ademais, nesses dias de absoluta liberdade sob qualquer aspecto, proibições de caráter religioso são absurdas e devem ser refletidas em conjunto, para que as perspectivas de liberdade de consciência preconizadas pelo Espiritismo sejam vitalizadas por jovens firmes e conscientes de seus direitos.


03.Sabemos que o jovem sempre tem resistência para fazer algumas coisas. Uma delas é dirigir-se ao centro, participar das atividades evangélico-doutrinárias. Sou mãe de uma jovem de quinze anos, que apesar de fazer parte do Coral Espírita do centro que freqüentamos não participa das outras atividades. O que fazer para estimulá-la a nos acompanhar, já que ela tem o exemplo meu e de meu marido?

Resposta: Saiba que seu exemplo e de seu marido são os maiores patrimônios que poderiam deixar aos filhos. Esse é o passo fundamental. Os outros são um permanente diálogo, no sentido de lembrá-lo(a) de seus deveres enquanto ser imortal, incentivá-la sempre a buscar na Casa Espírita as companhias e os ambientes propiciadores de equilíbrio e renovação pessoal. Por fim, é necessário também refletir sempre, junto aos companheiros da Mocidade, se as reuniões de jovens estão atraentes o bastante para que haja interesse na permanência deles no Centro. Em um mundo onde tudo atrai pela beleza e pelo prazer, se a reunião da juventude não tiver atrativos que prendam a atenção e o interesse dela, a tarefa de formar um ser mais amadurecido no futuro que se aproxima fica realmente mais difícil.


04.Sou jovem e gostaria de saber como a Doutrina Espírita trata o assunto "sexo". Como um jovem espírita deve se comportar perante as inúmeras facilidades quanto ao sexo, que há hoje em dia? Ao sair à noite ele poderá manter relações sexuais sem responsabilidade sentimental alguma sem que isso o prejudique? Como o espiritismo vê o jovem que se relaciona sexualmente sem compromisso com várias mulheres, que também não estão preocupadas em relacionamentos sérios?

Resposta: O Espiritismo considera o sexo como uma das formas mais profundas de contribuir com a natureza e a humanidade na formação de sentimentos superiores e de vibrações sublimes. Como é força construtiva, a energia sexual mobiliza intensamente o jovem, quando ele sente aflorar o desejo de viver o prazer que ela propicia. Em um mundo sem regras, fica fácil viver essa descoberta sem os devidos cuidados com o sentimento alheio. Fazer sexo com qualquer pessoa, sem o senso de compromisso que essa vinculação deveria despertar, deixa a impressão de que tudo é muito fácil e permitido. As próprias garotas, por também estarem inseridas em um contexto extremamente erotizado, acabam envolvidas por pressões do meio e começam a praticar o sexo sem a devida maturidade e noção do que seja o uso das forças genésicas.

Aí entra o aspecto revolucionário do Espiritismo. Na visão profundamente libertadora da Doutrina, o sexo pode ser educado dentro das mais nobres concepções de responsabilidade. São elas que vão definir, com clareza e tranqüilidade, o tempo certo de se começar, a pessoa certa com quem dividir essa intimidade, e os meios adequados para se atingir essa condição. Que o jovem espírita não tenha pressa; que ele não sucumba com facilidade às pressões nem sempre éticas da sociedade consumista, que deseduca ao ensinar o ser humano a amar as coisas e usar as pessoas, quando o correto é o contrário; que ele siga estudando sempre, ininterruptamente, os livros fundamentais da Doutrina, bem como conversando bastante com pessoas mais vividas e equilibradas, para ouvir quem já enfrentou batalhas nesse campo.


05.Como fazer para integrar os jovens, adolescentes e pré-adolescentes, nas atividades do Centro Espírita ?

Resposta: Jovem integrado é jovem que participa adequadamente do espaço que lhe é legitimamente oferecido para trabalhar. É preciso ampliar o horizonte das atividades da Mocidade dentro da Casa Espírita, para que ele veja que o trabalho de hoje é a sementeira das responsabilidades seguintes, que lhe chegarão à medida que o tempo for passando e ele for amadurecendo convicções e conhecimentos.


06.Gostaria de saber mais sobre mediunidade na adolescência. Como lidar com esse assunto?

Resposta: Mediunidade deve sempre ser tratada com conhecimento teórico e educação do sentimento. Por conhecimento teórico compreendo o estudo sistematizado da Doutrina Espírita, sobretudo dos livros que tratam diretamente do assunto, como "O Livro dos Médiuns", apenas para citar um. Por educação do sentimento, entendo o domínio das características que definem a criatura. Ela é amorosa, orgulhosa, arrogante, sensível, dedicada, disciplinada? Educar-se significa descobrir quais são essas qualidades pessoais e tratar de eliminar as não muito boas com o reforço das boas. Todo médium, seja jovem ou não, deveria comprometer-se com uma atividade de caráter assistencial. Visite em grupo um asilo, ou um orfanato, ou um hospital; forme uma equipe de passes para atender quem não possa ir a um Centro Espírita; integre grupos de apoio à evangelização da infância. Dedique-se a causas nobres, mantendo seu coração sempre desperto para as vibrações de amor. Só assim, a espiritualidade poderá servir-se de sua mediunidade com o equilíbrio e o amor indispensáveis ao bom exercício de tão valiosa tarefa.


07.Como você vê a "avalanche" de atividades artísticas no movimento juvenil espírita?

Resposta: Atividades artísticas são características da juventude. Elas são sempre bem vindas, desde que preservem o equilíbrio e bom senso preconizados pela Doutrina. Seja no teatro, na música, na dança, na poesia, a arte pode e deve ser incentivada, para que o sentimento de "avalanche", ou a sensação de que está acontecendo muita coisa sob esse rótulo dentro da casa espírita sem o devido cuidado, seja substituído pela da prudência e da serenidade. Muito cuidado: esses valores devem ser vividos pelos mais amadurecidos, sem que de certa forma apaguem o ímpeto criativo da juventude. Dar espaços com sabedoria é tão importante quanto saber cortar os excessos.


08.Kardec utilizou-se basicamente de médiuns que encontravam-se ainda na fase da adolescência. Por que as instituições Espíritas na atualidade têm resistência em admitir a participação de jovens nos trabalhos mediúnicos?

Resposta: Talvez a resistência seja em função da pouca experiência de vida dos mais jovens. Além disso, é preciso considerar que a tarefa de Kardec era missionária, assim como a presença daqueles jovens profundamente amadurecidos ao seu redor, apesar da pouquíssima idade. Na condição atual, os mais novos que se interessarem pela prática da mediunidade deveriam ser acompanhados pelos mais experientes com todo o carinho e respeito que merecem, para que se integrem paulatinamente nas atividades mediúnicas da casa, sem prejuízo de suas lutas particulares, como definições profissionais, formação de família e desafios de cunho íntimo de toda espécie.


09.Existe alguma forma de tomar decisões, como por exemplo, escolher a carreira a seguir, sem que sejamos prejudicados pela despreocupação natural ou modismos típicos da juventude? Como não desviar dos "planos" com que nos comprometemos na espiritualidade (ou a nossa missão)?

Resposta: A melhor forma de não "desviar" do plano traçado na espiritualidade é a prece. Toda vez que nos recolhermos para esse exercício de despertamento íntimo, devemos pedir aos amigos que nos orientam que nos ajudem na relembrança paulatina dos compromissos assumidos antes do nascimento. Seguindo assim, vamos ter a intuição necessária para chegar às metas traçadas previamente, ainda que enfrentando os tropeços e inseguranças propiciados por um mundo difícil e cheio de alternativas como é o em que vivemos.


10.Como educar nossos filhos dentro da Doutrina Espírita sem no entanto torná-los "carolas"?

Resposta: Tudo vai depender da forma com que os pais compreendam a Doutrina. Quanto mais ela for entendida como um elemento moderno, dinâmico e vivo em nossa vida, menos carola ela será, e menos carola também vai ser nossa convivência com nossos filhos. A Doutrina não cabe em argumentações de caráter dogmático e moralista, elementos muito comuns em determinados diálogos entre pais e filhos. Espiritismo deve ser conversado sem meias palavras. Assim como deve ser sentido, pode ser dialogado abertamente, com a clareza que nos ajuda a aceitá-lo como chave libertadora de uma vida limitada, rumo a novas possibilidades de crescimento. Se os pais não entenderem a Doutrina de uma forma autêntica, vão ficar reproduzindo clichês pretensamente educativos para os filhos e afastando-os sem perceber do interesse pelos postulados sublimes da Doutrina.


11.Nos tempos atuais, o número de jovens que se aproximam da Doutrina Espírita, freqüentando Centros e buscando o conhecimento, através dos cursos neles ministrados, cresceu bastante em relação há vinte, trinta anos atrás. Qual seria a explicação, levando em conta a chegada do terceiro milênio e o afastamento do planeta como um 'mundo de expiação e provas', e aproximação para o de 'regeneração'?

Resposta: A juventude que chega vem trazendo compromissos de ordem espiritual registrados na consciência. Essa é a prova de que o mundo, apesar das atrocidades vividas em diversas regiões, registra a chegada de legiões elevadas de espíritos comprometidos com a transformação profunda do planeta. São os futuros cientistas preocupados com o equilíbrio ecológico; são os músicos, chegando com novas noções de harmonia e estruturação musical, que se implantadas vão provocar sensíveis mudanças na concepção que o próprio homem tem de si mesmo. Enfim, em todas as áreas, jovens e crianças chegam, com a mensagem silenciosa de Jesus, de que Ele e o Pai estão atentos aos destinos da Terra como casa dos regenerados, dos que estamos nos esforços para a superação das mazelas íntimas.


12.Sendo o jovem ainda muito entusiasta, condição que lhe permite energia de pesquisa, mas não lhe confere maturidade, o que você pensa sobre ele ser orientado enquanto estudioso da doutrina?

Resposta: Todo jovem deve ser orientado quanto aos estudos doutrinários. Ninguém se encontra no direito de achar que está pronto, no campo do saber. Quanto ao entusiasmo, eis uma qualidade que todos deveriam ter. O ser entusiasmado é aquele que carrega "um deus por dentro de si". Nessa condição, ele muito pode fazer, e se estiver bem orientado, maior será o alcance de seus empenhos.


13.Qual o seu conceito atual sobre a juventude brasileira e mundial e qual a importância da juventude na dinâmica de transformações morais no Brasil e no mundo?

Resposta: A juventude tem grande contribuição a dar para qualquer sociedade. Treinando agora as bases da originalidade, criatividade e autonomia, o jovem de hoje terá amplas condições de ser o homem amadurecido do futuro que em tempo correto, aprendeu a temperar o ânimo e encontrar a medida certa das coisas. O Espiritismo é justamente um dos trunfos que ele pode ter para bem se conduzir na administração dessa força vivencial chamada juventude.


14.A que ponto devemos atribuir o comportamento de um jovem a influências da infância?

Resposta: Influências da infância estão sempre "tocando" nas causas de muitos comportamentos da vida, seja na adolescência ou na vida adulta. É preciso encontrar a medida exata do bom senso para saber até que ponto algum fato vivido na primeira idade seja realmente o elemento desencadeador das dificuldades seguintes. Uma boa orientação psicológica pode ajudar a aclarar essa questão.


15.Tenho 15 anos e sou gay. Como o espiritismo vê esta questão que tem se tornado mais comum?

Resposta: Já é bastante conhecida a forma que o Espiritismo compreende a homossexualidade. Há muitos livros que tratam da questão. Procure em seu centro as obras que estudam esse fenômeno. Um dos que gosto de sugerir como leitura é "Vida e Sexo", de Emmanuel, pelo profundo teor de afeto que o benfeitor espiritual utiliza quando estuda o tema. Talvez não seja ainda muito assimilada a maneira prática com que os espíritas deveriam ter para conviver com o homossexualismo e os homossexuais. Preservadas todas as questões que se referem à necessidade de equilíbrio e respeito ao próximo, entendo pessoalmente que é justo cada ser humano buscar a forma mais adequada de conhecer a própria sexualidade. Se a opção da pessoa é pela homossexualidade, entendo que ele ou ela devam, assim como qualquer heterossexual, preocupar-se em respeitar o outro e a si mesmos, descobrindo a capacidade de conviver ao mesmo tempo com o prazer e a responsabilidade, com a alegria e a maturidade.


16.Trabalho da educação espírita de jovens na faixa de 15 anos em diante, e gostaria de saber qual a melhor metodologia para o aprendizado: O que poderíamos chamar de "Beabá", ou poderíamos usar a própria curiosidade do jovem como temas para serem usados nas aulas, usando o codificação de Kardec?
Resposta: Toda criatividade é bem vinda, na hora de se trabalhar com jovens. A rigor, conteúdo doutrinário nunca deveria ser "passado", mas sim "partilhado", para que os jovens se sentissem partes integrantes do processo de formular pensamentos adequados em torno das concepções doutrinárias. Continue sendo criativa, que sua equipe vai repercutir essa forma de educar logo depois, na hora de agir diante dos desafios do mundo.


Fonte: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo - www.cvdee.org.br



SÍMBOLOS NAS PALAVRAS



SÍMBOLOS NAS PALAVRAS

Em nos reportando à indulgência, recorde-se que o verbo pode ser definido em variadas comparações.

A palavra de bondade é uma semente de simpatia.


A frase de acusação é um golpe agravando a ferida que nos propomos curar.

O conceito otimista é luz no caminho.

O grito de cólera é curto-circuito na sistemática das forças em que venha a surgir.

O diálogo construtivo é terapêutica restauradora.

O comentário deprimente é pasto da obsessão.

A nota de esperança é porta de paz.

O conceito pessimista é nuvem enregelante.

A frase calmante é ingrediente de paz.

O verbo agressivo é indução à doença.

Conversando podemos criar saúde ou enfermidade, levantar ou abater, recuperar ou ferir.

A nossa palavra enfim pode ser uma pancada ou uma bênção.

E o uso dessa força que equilibra ou desequilibra, obscurece ou ilumina, ergue ou abate está em nós.


Pelo Espírito ANDRÉ LUIZ
Do livro: BUSCA E ACHARÁS
Psicografia de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER